O termo trans* com asterisco surgiu da necessidade de se incluir diversas experiências não-cis e para combater um pouco a multipilicidade de entendimentos do que seria transexual, transgênero e outros milhares de termos.
Entretanto, não acho essa distinção necessária. De certa forma, vejo um pouco como a sigla LGBT, supostamente inclusiva mas usada para falar apenas de homens gays na maioria do tempo. Não adianta colocar asterisco se você não fala dessas experiências trans não-binárias e de outras formas de não-cisgeneridade que fujam à narrativa universal.
Além disso, sou preguiçosa e escrever o asterisco dá mais trabalho do que seu uso justificaria. Dá para entender trans como transexual e como transgênero. Dá para ver diversas narrativas de não-cisgeneridade como transgeneridade e essa já é a posição de muita gente.
Apesar de entender que o asterisco também é uma forma de lutar contra a higienização e hierarquização de narrativas não-cis (“crossdressers são homens, travestis são os dois e transexuais são os que são realmente mulheres ou homens de verdade”), não acho que a contribuição dele para esse fim justifique seu uso mais do que realmente abordarmos e extinguirmos essas higienizações dos nossos discursos.
Além disso, usar o asterisco traz o problema de termos também de definir quem está dentro dele. Uma mulher lésbica bastante masculina conta como trans*? Crossdressers são trans*? E pessoas que quebram a cisnorma apenas num contexto de obter satisfação sexual? E não-cisgeneridades performáticas como drag queens e kings?
A partir do momento em que o termo trans* inclui todas elas e você fala sobre como o nome social é importante para pessoas trans*, isso virou apenas um teatro de inclusividade equivalente a usar LGBT para falar das prioridades gays.
Prefiro evitar esse risco. Dentro do transfeminismo existe espaço para a análise de todas essas narrativas que se encaixam dentro do termo trans* e luta-se contra a higienização e glorificação da narrativa médica transexual como a única (ou a mais) válida. Apenas não acho que o asterisco ajude isso mais do que o que falamos, como falamos, para quem falamos e quem está falando.
Nota: isso são considerações e motivações pessoais minhas e não uma crítica a quem quer que seja que usa o asterisco.
Muito bom esse texto. Estou gostando demais do seu blog. Amanhã sai um post meu no Blogueiras Feministas com links daqui. Beijos