Identidades e Transfeminismo

Ultimamente há bastantes manifestações sobre “política de identidades” e “teoria queer”, sua relação com o transfeminismo e sua suposta inaplicabilidade.

Esse tipo de crítica sempre me pareceu mal-guiado pois, na minha opinião, não há nenhuma necessidade da Teoria Queer ou dessa tal de “política de identidades” para a manutenção da maioria das teorizações que se dão dentro do transfeminismo.

“Se identificar como” mulher ou genderqueer não é diferente de “ser” mulher e genderqueer.
Da forma que eu entendo, o propósito de se falar em identidades é:

  • Desnaturalizar o gênero e suas expressões; ou seja: evidenciar que nossa maneira de entender nosso gênero e expressá-lo é um diálogo constante entre pressões culturais, individuais e biológicas e não um dado fixo.
  • Criar uma sensação de pertencimento e auto-determinação, crucial para o empoderamento de diversos grupos minoritários.
  • Tirar de instituições opressivas a capacidade de versar sobre o que somos.

Minha posição geral sobre terminologia e frameworks teóricos é que eles nunca sobressaem a realidade vivida e observada. Nesse sentido, não interessa se alguém se identifica ou não como negro se essa pessoa sofre opressões racistas. Não faz diferença se alguém se identifica como trans se essa pessoa sofre opressões transfóbicas. Não faz muita diferença se alguém não se identifica como cis se essa pessoa possui privilégios cis.

É nas características da opressão e nas experiências vividas das pessoas que a análise deve se focar, não em terminologias, sejam elas quais sejam. E se focar nas experiências vividas inclui não ignorar as nuances da experiência de alguém que se apresenta como cis mas não se identifica como cis. Não ignorar as diversas formas em que diversas instituições opressoras afetam diversas pessoas diferentes de formas diferentes. Não ignorar o valor que a auto-identificação (ou a falta dela) tem para determinado indivíduo. Mas não é necessário usar política de identidades para fazer tudo isso de forma igualmente boa.

Terminologia e teoria são ferramentas de luta, não são a luta.

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